Especialistas dizem que decreto sobre armas pode incentivar tragédias como a de Suzano

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Brasília, quinta-feira, 14 de março de 2019 - 13:7

Especialistas dizem que decreto sobre armas pode incentivar tragédias como a de Suzano


Por: Sônia Corrêa

Ninguém pode afirmar peremptoriamente que o massacre de Suzano, que levou a óbito dez pessoas, na manhã de ontem, tem relação direta com o “canetaço de Bic” do presidente Bolsonaro que facilita a aquisição de armas. Mas, tanto o decreto, como a cultura do ódio, podem fomentar tragédias como a de Suzano/SP, avaliam especialistas. Leia mais:

Uma breve observação da realidade brasileira permite a percepção de que a sociedade brasileira está doente, alimentada por discursos e cultura do ódio e da violência como forma de resolver conflitos e diferenças de opinião e visão de mundo.


Lilian Milena, do Jornal GGN entrevistou e fez um apanhado de opiniões de especialistas onde mostra que, apesar de não poder-se vincular diretamente o decreto sobre aquisição de armas ao ocorrido na escola em Suzano/SP, medidas como essa podem corroborar para crimes como esse e aumenta o risco de novas tragédias.

Abaixo, reproduzimos alguns trechos da matéria do Jornal GNN.

“Vamos esperar nos próximos anos uma escalada da violência não só nas escolas, mas na sociedade em geral, ainda complementado com o pacote anticrime do ministro da Justiça Sérgio Moro, desresponsabilizando policiais pelo crime de assassinato, se a ação for cometida por ‘violenta emoção’”, avalia Daniel Cerqueira, conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e um dos coordenadores do Atlas da Violência.

“Fazer uma relação causal direta entre o discurso de incremento da violência do governo a uma ação dessa natureza é muito apressado. Não sabemos ainda a causa e o motivo dessas pessoas para provocar a própria morte inclusive”, alerta Jacqueline Sinhoretto, coordenadora do Grupo de Pesquisa sobre Violência e Administração de Conflitos da UFSCar, membro da diretoria do IBCCRIM (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais).

O decreto e a cultura da violência

“Ações dessa natureza [massacre de Suzano] parecem inexplicáveis e se repetem. Já ocorrera no Brasil, nos Estados Unidos e recentemente na França”, pontua Jacqueline. Por outro lado, a pesquisadora pondera que o decreto presidencial pode sim incentivar crimes dessa natureza.

“A arma que foi utilizada é justamente essas que uma pessoa pode ter em casa, uma 38. Não sabemos se era legalizada, é uma pergunta que a polícia precisa responder. Independente disso, o decreto contribui para o aumento da circulação”, avalia a pesquisadora.

Daniel Cerqueira, completa que o massacre de Suzano não é reflexo exato do aumento de circulação de armas (que ainda não pode ser medido), mas da cultura da violência presente na medida e nos discursos do presidente Bolsonaro, muito antes de assumir o planalto, validando a resolução de conflitos pela brutalidade.

“O adolescente é um indivíduo que passa por uma transição severa na sua vida, são inúmeras transformações biológicas, psicossociais. Muitos se isolam. É um período difícil”, destaca lembrando que, nos países desenvolvidos, o acolhimento de adolescentes que passam por algum período psicossocial conturbado acontece a partir da implementação de políticas de apoio ao desenvolvimento juvenil.

“São programas educacionais que reconhecem essa diferença do indivíduo, que incentivam o estabelecimento de diálogo entre os próprios jovens para conviverem com as diferenças e respeitando-se mutuamente”, explica sobre um procedimento normal em uma sociedade civilizada.

“No Brasil o que temos visto nos últimos anos é a brutalidade aumentada nos discursos de ódio, o uso da violência para resolver problemas. O que se propõe é exterminar o outro quando pensa diferente de mim”, destaca o pesquisador.

“O segundo fator que temos que pontuar é o ambiente escolar. Toda a discussão do governo tem sido no sentido de fomentar o fechamento do debate de ideias nas escolas. A prevenção da violência também se faz no ambiente escolar. A ideia que o próprio presidente e o MEC veiculam de que as escolas são fontes de problema, de doutrinação ideológica desvaloriza a escola como um espaço importante ao contraditório”, completa Jacqueline.

Dessa forma, a especialista em segurança pública conclui que o discurso público do governo apoiando a violência, o aumento de armas em circulação e o desrespeito a escola como espaço de socialização, enfraquecendo a imagem do ambiente educacional, podem conjuntamente contribuir, em algum grau, para acontecimentos como o massacre de Suzano.

O presidente Bolsonaro faz sinalizações simbólicas sobre o uso da violência para resolver conflitos na sociedade muito antes de subir ao planalto. Durante a corrida eleitoral, surpreendeu ao segurar uma criança no colo e fazê-la representar uma arma de fogo com a mão.
 









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