Vagões especialmente para mulheres no metrô

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Brasília, segunda-feira, 24 de agosto de 2009 - 16:44

CONTRA ASSÉDIO

Vagões especialmente para mulheres no metrô


Fonte: Correio Braziliense

Projeto de lei federal prevê espaços específicos para transporte do público feminino. Forma de evitar que passageiras sejam alvo de constrangimento

No fim da tarde, os trens do metrô partem lotados e o contato físico entre os passageiros é inevitável. Para as mulheres, essa aproximação pode se tornar constrangimento e desconforto.

A Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados aprovou, na última quarta-feira, uma proposta de criar vagões para o público feminino em metrôs e trens, o que evitaria o assédio.

O Projeto de Lei nº 6758, de 2006, institui vagões especiais para mulheres e crianças. A medida só valeria para os horários de maior fluxo — das 6h às 9h, das 12h às 14h e das 17h às 20h.

O projeto é de autoria da deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), que sugeriu a mudança depois de ouvir vários relatos de assédio sexual em meios de transporte público.

“É um incômodo e uma situação constrangedora para todas as mulheres e famílias. Estamos sempre recebendo denúncias, há uma insatisfação”, disse a parlamentar.

Se aprovada, a lei determinará a separação de um vagão exclusivo para mulheres e a fiscalização nas estações. “Se tiver um fiscal para conferir se os vagões existem, pelo menos a mulher vai ter a quem procurar”, explicou.

As opiniões femininas se dividem na avaliação do vagão exclusivo. A estudante Kaiciane Nascimento da Costa, 21 anos, usa o transporte todos os dias por volta das 18h, um dos horários de pico do metrô.

Ela reclama que os trens estão sempre cheios nesse horário, o que facilita o assédio. A estratégia dela para escapar das investidas masculinas é ficar encostada na parede e se afastar quando vê algo estranho.

Manter a mochila nas costas também afasta um ou outro passageiro inconveniente. Kaiciane acredita que essas medidas são suficientes para a mulher se prevenir e não há necessidade de um vagão exclusivo.

“Um vagão não adianta, o incômodo sempre vai existir nos transportes lotados. É uma ideia extrema para um problema que pode ser resolvido de outras formas”, opinou.

Anacleta Francisca Matos é a favor. “Será mais seguro e confortável”, defende. A dona de casa Vanessa Alves, 23 anos, afirma ter presenciado casos de assédio contra mulheres no metrô.

“Uma vez a mulher deu o maior escândalo. Acho que a pessoa tem que se impor e sair de perto”, aconselhou. Vanessa também usa a tática de ficar próxima à parede para diminuir o contato com os passageiros.

Na única vez em que um homem se aproximou mais do que deveria, ela pediu licença e saiu. “Tem homem que se esfrega na maior cara de pau. A solução para isso é a educação, não um vagão só de mulheres. Eu não ia gostar de viajar longe do meu marido”, comentou.

O projeto de lei não prevê a proibição total de homens no vagão — maridos, namorados e filhos poderiam usá-lo sem problemas. A proposta é que ele seja ocupado por maioria feminina, o que deixaria as mulheres mais à vontade.

“Você não vai impedir ninguém de entrar no metrô. A mulher vai ter a opção de entrar acompanhada. Mas as passageiras vão saber que quem está lá não é a pessoa que vai assediá-la com aproximações indevidas”, explicou a deputada Rose de Freitas.

A parlamentar acredita que não serão acrescentados novos vagões aos trens, mas haverá a reserva de um dos espaços existentes para as mulheres.

Há quem acredite que a divisão deixe as mulheres mais confortáveis no trajeto.

“A gente vai ter um pouco mais de privacidade. Às vezes fico incomodada porque o metrô está cheio e o cidadão vai chegando muito perto”, reclamou a operadora de telemarketing Anacleta Francisca Zornte, 46 anos.

Ela usa o transporte diariamente às 7h e às 15h30 e observa que algumas pessoas se aproveitam do movimento no trem para se aproximar das passageiras.

Cerca de 160 mil pessoas usam o metrô todos os dias no DF e metade dos passageiros são mulheres. O diretor de operação e manutenção do Metrô DF, José Dimas Machado, vê um problema operacional na criação do vagão feminino.

“Imagina fiscalizar isso em horário de pico, como vamos fazer? Se o trem estiver cheio, vamos deixar homens sem viajar porque não podem entrar no vagão?”, questionou.

Dimas ressalta que nunca houve ocorrência grave dentro do metrô e que a questão do assédio deve ser resolvida com policiamento e campanhas educativas.

“Hoje em dia, se uma mulher é assediada no trem, ela reage, reclama. Se ela se sentir ofendida, tem meios para reclamar. Ela pode se dirigir a um policial e identificar o homem”, comentou Dimas.

O diretor acredita que a medida pode se transformar em segregação das mulheres. O projeto de lei ainda será discutido pelos parlamentares da Comissão de Viação e Transporte e da Comissão de Constituição e Justiça.

Ele tramita em caráter conclusivo na Câmara dos Deputados e não será levado para votação em plenário. Se aprovado pelas comissões, segue para sanção presidencial.









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