As eleições de 2022: realidade, magia e possibilidade

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Brasília, quinta-feira, 18 de novembro de 2021 - 10:12

As eleições de 2022: realidade, magia e possibilidade

Diante da tragédia que é e representa o governo Bolsonaro, as eleições de outubro de 2022 apresentam-se mágica e salvadora. Todos os desejos e ilusões de vida melhor ou menos trágica estão agora depositadas no próximo pleito. Normal, mas perigoso. Vamos entender.

Realidade. Desde as jornadas de junho/julho de 2013, o Brasil vive em transe. Em 2014 houve a reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff. Mas a recondução da petista, em certa medida agravou a crise, pois os vencedores não entenderam as demandas que estavam por trás das manifestações contra o aumento daqueles R$ 0,20 nas passagens de ônibus em São Paulo, que deram início às jornadas, que foram capturadas pela extrema direita.

O fato é que o 2º mandato de Dilma não aconteceu. Ela foi reempossada em janeiro de 2015 e daí em diante não teve 1 minuto de sossego. O PSDB questionou a legitimidade da vitória e esta foi a senha que desaguou no impeachment da ex-presidente. Inclua-se aí as chamadas “pautas bombas” no Congresso, que funcionaram como sabotagem ao governo, sob a liderança do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB-RJ).

Em 11 de abril de 2016, a comissão especial da Câmara aprovou a abertura do processo contra Dilma, por 38 a 27. No dia 17, após 6 horas de sessão e por votação nominal, o plenário da Câmara autorizou a abertura do processo de impeachment contra a então presidente Dilma, por 367 votos a favor, 137 contra e 7 abstenções.

No Senado, em junho, a Comissão Especial do Impeachment passou por momentos tensos na definição do cronograma de trabalho — feito e reformulado algumas vezes —, e na fase de depoimentos das 44 testemunhas — 38 da defesa, 2 da acusação e 4 arroladas pelos senadores —, em 14 reuniões, chegando a quase 100 horas de oitivas.

Em 4 de agosto, o relatório do senador Antônio Anastasia (MG), então no PSDB, foi aprovado na comissão e seguiu para o plenário.

Na sessão iniciada na manhã de 9 de agosto e encerrada na madrugada do dia 10, o plenário decidiu, por 59 votos a 21, que a presidente afastada iria a julgamento. Dilma foi acusada de crime de responsabilidade contra a lei orçamentária e contra a guarda e o legal emprego de recursos públicos, na forma de 3 decretos de crédito suplementar e operações com bancos públicos. As chamadas “pedaladas fiscais” foram usadas como exceção à regra para pegar Dilma.

Após 6 dias de julgamento, o Senado concluiu, em 31 de agosto, o impeachment de Dilma Rousseff, cassando o mandato da presidente, mas mantendo os direitos políticos dela. Foram 61 votos favoráveis e 20 contrários no julgamento que ficará marcado na história do Congresso Nacional e do Brasil.

Saiu Dilma e entrou Temer
Os números do PIB, de 2015 a 2018, revelam o que foi para o Brasil e o povo brasileiro aquele quadriênio, que redundou na eleição do que hoje vive-se no País, com o pior governo da história republicana desses trópicos. A derrota de Dilma foi mais que eleitoral. Foi política e ideológica.

Vamos aos números: em 2015, o PIB ficou em -3,8%; em 2016 (-3,6%); em 2017 (1,0%); e em 2018 (1,8%). A crise econômica resvalou para crise política e de legitimidade das instituições, que foram todas colocadas em xeque. O resultado está em curso.

Sob o programa de governo neoliberal de Temer — Uma ponte para o futuro — e com a economia em frangalhos, o desemprego em alta, já sob a Reforma Trabalhista, o Brasil rumou para as eleições de 2018, cujo resultado solapou a democracia, com a vitória de legítimo representante do Golpe Militar de 1º abril de 1964, quase no 1º turno, e a eleição do Congresso mais reacionário pós-redemocratização.

Assim, pode-se constatar ou concluir, que nesses 33 anos sob a égide da Constituição de 1988, portanto sob regime político de liberdade democráticas, o pensamento progressista foi negligente com a democracia e as instituições que a representam e lhe conferem legitimidade.

As eleições de 2022
Magia. Diante do caos que é o governo Bolsonaro, agravado pela pandemia de covid-19, exponenciada pela gestão desastrosa do governo, sob orientação direta do negacionismo do presidente da República, parcela expressiva do eleitorado, sobretudo o de esquerda, deposita nas eleições de 2022 toda a esperança de tempos melhores. Em particular na vitória de Lula.

Nesses eleitores de esquerda paira a ideia que basta eleger o ex-presidente Lula que tudo estará, como num passe de mágica, resolvido. Não há, por óbvio, sombra de comparação entre Lula e Bolsonaro. Aqueles que tentam fazê-lo, na maioria das vezes, é por preconceito ou ódio.

Mas em política não existe mágica ou as coisas acontecem apenas por desejos. Como se a fixação quântica sobre algo que se quer pudesse acontecer por desejo ou atração.

Há nisso, por parte da esquerda, o que se pode chamar de sebastianismo1, que ao fim e ao cabo subestima as lideranças e o povo em última instância.

A luta político-eleitoral
Possibilidade. As saídas da crise que consome as melhores energias do povo e do País passam por derrotar Bolsonaro, isolar o bolsonarismo e eleger um Congresso mais avançado e progressista. Isso não vai ser tarefa fácil. Ou seja, não basta apenas derrotar o atual presidente. Isso é insuficiente.

Em artigo “Movimentos sociais e missões para as eleições de 2022”, escrito por Antônio Augusto de Queiroz, do DIAP, ele delineia essa perspectiva.

Em síntese, Queiroz escreve que se os movimentos sociais não se jogarem organizadamente na próxima disputa — em particular para o Congresso Nacional — de deputados e senadores, a derrota de Bolsonaro ficará incompleta.

“Com um bom planejamento, na perspectiva de escolha dos candidatos e da formação política desses quadros, e com uma plataforma bem construída, os movimentos sociais, sindicais e populares têm tudo para fazer a diferença nas eleições gerais de 2022”, acrescenta Queiroz.

Assim espera-se. Mas não sentados. Com a palavra, os movimentos sociais.

Marcos Verlaine

Jornalista, analista político e assessor parlamentar licenciado do Diap

Fonte: DIAP

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NOTA

1 Crença mística, propagada em Portugal logo após o desaparecimento de D. Sebastião 1554-1578, segundo a qual este rei, como novo messias, retornaria para levar o país a outros apogeus de glórias e conquistas.









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