Máfia russa perto de mulheres brasileiras

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Brasília, terça-feira, 24 de março de 2009 - 15:52

PROSTITUIÇÃO INTERNACIONAL

Máfia russa perto de mulheres brasileiras


Fonte: Correio Braziliense

Secretário executivo do Ministério da Justiça admite apreensão com a influência do grupo criminoso no esquema de exploração de garotas de programa na Europa

O envolvimento da máfia russa em esquema de exploração sexual de brasileiras na Europa deixou em alerta o Ministério da Justiça. À frente de prostíbulos e de casas noturnas em Portugal e na Espanha — principais destinos de prostitutas do país a partir de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro — os grupos criminosos surgidos após o fim da União Soviética revelam sinais de participação nas conexões internacionais de prostituição.

"Nos preocupa a máfia russa se aproximar das brasileiras. E parece que o sistema já se interliga", afirmou o secretário executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto.

Ele está em Lisboa, Portugal, onde participa do II Seminário Luso-Brasileiro sobre Tráfico de Pessoas e Migração Ilegal. Conversou ontem à tarde por celular com o Correio, que desde domingo publica série de reportagens sobre a nova rota do tráfico de seres humanos para a Europa via Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília.

Além de Barreto, a delegação brasileira na capital portuguesa conta com o secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, dois delegados da Superintendência da PF no DF e o coordenador do programa de imigração do Ministério da Justiça.

O encontro coloca em debate alguns aspectos da migração entre Brasil e Portugal. Entre eles, desrespeito aos direitos humanos, abuso de mão de obra e prostituição. A exploração sexual toma conta da maior parte das discussões entre os representantes dos dois países.

"Detectamos fluxo de meninas, principalmente de Goiás e de Minas, que sabem que viverão como prostitutas em Portugal. Poucas são as que não sabem. O que chama a atenção por aqui também são os diversos anúncios de brasileiras em jornais e revistas portugueses", contou Barreto.

Para o secretário-executivo do Ministério da Justiça, no entanto, a aproximação da máfia russa do esquema de tráfico de seres humanos é o que mais vem preocupando. Um dos indícios dessa nova ligação é a exploração de mulheres do Leste Europeu.

"Muitas ucranianas já são submetidas a este esquema na Europa, principalmente em Portugal e Espanha. Como os dois países aparecem como os principais destinos de brasileiras, sabemos que estão expostas a esse risco", avaliou.

20 mortes anuais
Dados da Assessoria Especial para Assuntos Internacionais do governo de Goiás revelam o tamanho do problema no estado vizinho ao DF. Estudo feito pela secretaria, em parceria com o Ministério da Justiça, dá conta de que, em média, 20 goianas morrem assassinadas na Europa em consequência da exploração sexual.

Outras 18 desaparecem todo ano. Apenas 10% delas ainda caem em armadilhas e acabam expostas a regimes de semiescravidão.

Há casos em que as meninas se veem obrigadas a fazer de 10 a 12 programas por noite para pagar dívidas. Elas desembarcam com débitos de até 5 mil euros (cerca de R$ 15 mil) por conta de passagens aéreas e hospedagem.

Algumas ainda têm o passaporte confiscado pelos donos dos prostíbulos e acabam confinadas até o pagamento total da dívida. Não são raros os donos de prostíbulos e de casas noturnas portugueses, espanhóis e suíços que mantêm quartos com barras de metal para evitar a saída das garotas de programa.

Durante o seminário em Lisboa, as autoridades do Brasil e de Portugal também tomarão iniciativas para dificultar a conexão internacional para tráfico de seres humanos. Entre elas, a troca de informações entre as polícias. Também deve ser importado sistema de conferência de passaporte dos aeroportos de Portugal.

"Eles contam com leitores ópticos e equipamentos capazes de ter detalhes de um passageiro em oito segundos", contou Luiz Paulo Barreto. A tecnologia pode ser testada em breve no aeroporto de Brasília ou no de Salvador (BA). O encontro se repete no Brasil no segundo semestre.

PF em alerta
Responsáveis pela investigação do tráfico de mulheres brasileiras levadas para a Europa via aeroporto JK, os agentes e delegados da Superintendência da Polícia Federal em Goiás sabem do envolvimento de chefões do crime da Rússia no tráfico de seres humanos.

"Representantes do governo suíço no Brasil já nos procuraram para informar sobre a ação da máfia russa na Suíça", revelou o delegado Luciano Dornelas, titular da Delegacia de Imigração da PF em Goiás.

O delegado goiano participou de um seminário na Suíça em 2007 sobre a identificação dos grupos de criminosos da antiga União Soviética.

"Naquela época, as autoridades suíças já falavam da preocupação em relação à máfia russa", relata. O delegado, no entanto, ressalta que ainda não houve prisões de mafiosos em esquemas de tráfico de mulheres desmontados em Goiás.

A rota da prostituição internacional via aeroporto JK se concentra em Goiás porque não é crime embarcar ou desembarcar garotas de programa. O delito está no aliciamento, que, segundo a polícia, ocorre em Goiânia e no interior do estado vizinho ao DF.

As goianas usam o terminal brasiliense como ponto de partida para a prostituição em Portugal, Espanha, Bélgica e Suíça desde que se consolidaram voos regulares ao velho continente.

Em média, quatro brasileiros voltam diariamente no voo Lisboa-Brasília separados dos demais passageiros. São extraditados, deportados ou inadmitidos — rejeitados pelas autoridades portuguesas assim que desembarcam no país europeu, principalmente por não convencerem que desejam apenas fazer turismo.

Dos quatro, três são mulheres. Delas, duas goianas. Poucas dizem ser prostitutas, mas todas admitem terem atravessado o Atlântico com a intenção de trabalhar ilegalmente na Europa.

Rescaldo da URSS
A máfia russa nasceu no início dos anos 1990, quando ruiu União Soviética. Formada por inúmeros grupos criminosos a partir de 1991, a organização internacional aproveitou a conturbada transição para rapidamente ganhar influência em redes de tráfico de drogas e de armas e prostituição ao redor do planeta.

Há informações que funcionários públicos russos, entre eles ex-agentes do KGB, a antiga polícia secreta da URSS, migraram para as mais diversas atividades criminosas pela falta de perspectiva de vida e de emprego.

Aproveitaram-se também dos atalhos da burocracia e da estrutura administrativa russas para ganhar dinheiro ilegalmente.

A máfia também se organizou ao redor de povos chechenos e georgianos para lavagem de dinheiro, compra de propriedades e pagamento de propina.









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