Racismo: discriminação na UCB reacende debate, que sempre volta porque não é enfrenado como problema de Estado

Brasília-DF, quinta-feira, 5 de junho de 2025


Brasília, terça-feira, 3 de junho de 2025 - 18:24

Racismo: discriminação na UCB reacende debate, que sempre volta porque não é enfrenado como problema de Estado

Estudante da Católica denunciou agressões que sofreu por meio de mensagens enviadas por colegas. Universidade afirma ter punido autores do crime, mas não informou a medida adotada. SAEP defende maior responsabilidade e maturidade no debate tema

Reprodução: G1/ Arquivo Pessoal.

Em rede social, a estudante universitária Érica Jaislane Campos relatou as ofensas que recebeu por causa da cor da pele dela. A denúncia chegou aos gestores da UCB (Universidade Católica de Brasília), onde os jovens estão matriculados. A instituição afirmou ter punido os agressores, mas não disse qual medida foi aplicada.

O fato aconteceu dia 14 de maio, via aplicativo de mensagens, durante discussão entre alunos sobre notas. Foi quando colega de turma enviou a primeira de muitas figurinhas com significado preconceituoso. É o chamado racismo estrutural que persiste no País. E, aqui para nós, quem persiste com isso tem pouca inteligência e grande incapacidade intelectual.

“Imagens e frases com sentido de inferiorizar a pessoa parda ou negra nem deveriam existir, muito menos circular, livremente e em tom de deboche, nas redes sociais”, declarou a presidente do SAEP, Maria de Jesus da Silva.

Maria recebeu a notícia do ocorrido com surpresa, por se tratar de fato ocorrido em ambiente de grande e renomada universidade privada. A sindicalista reforçou a necessidade de regulação do ambiente virtual e maior orientação aos usuários sobre a responsabilidade no uso e no trato com os demais.

“Existe, ali, no ambiente virtual, a ilusão de que se pode agir sem ser notado, visto ou descoberto. Mas isso não é verdade. Diversas investigações policiais já confirmaram que é possível rastrear o usuário, aonde quer que ele esteja”, alertou Maria. “Outra coisa, é preciso entender que o que não pode na vida real também não pode na virtualidade”, acrescentou.

A denúncia recente feita pela estudante está em investigação pela PCDF (Polícia Civil do Distrito Federal) como crime de injúria racial. O caso é acompanhado pela CDH (Comissão de Direitos Humanos) da Câmara Legislativa do DF e pelo MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal e Territórios).

Amadurecer para conviver
Em tempos de amplo acesso à informação e de debates coletivos abertos sobre direitos e limites, atos de preconceito não são toleráveis. Menos ainda praticados por grupo de estudantes universitários, do qual é esperado seriedade e maturidade ao lidar com as questões comuns da vida.

Outro problema identificado no caso é o mau uso dos aplicativos de mensagens, que deveriam auxiliar a troca de conhecimentos e a ajuda mútua entre os estudantes.

O mais grave, porém, é o impacto potencial de atingir a vítima. No caso de Érica Campos, a jovem precisou ser afastada da faculdade por 90 dias, devido ao abalo emocional e psicológico sofrido.

DF tem alta em casos de racismo
Somente de janeiro a abril deste ano, foram registrados 21 casos; 10 a mais que o período no ano passado. Alta em cerca de 91%.

Já as ocorrências de injúria racial tiveram alta de 33%. Passaram de 216, de janeiro a abril de 2024, para 288, no período deste ano.

Ciência prova miscigenação
Além de ser crime, condutas preconceituosas de raça — ou qualquer outra — demonstram imensa falta de conhecimento por parte de quem pratica.

Publicada em maio na revista científica Science, pesquisa inédita provou a marca da miscigenação forçada do povo brasileiro. Por meio da análise do DNA de quase 3 mil pessoas moradoras de todas as regiões do País, o estudo concluiu que o brasileiro é o povo mais diverso do mundo.

Identificou, também, 8,7 milhões de variações genéticas nunca antes catalogadas. Conhecimento que poderá auxiliar na identificação, prevenção e tratamento de inúmeras doenças.

O resultado da pesquisa traduz a mistura de negros, indígenas e europeus. Significa que o brasileiro atual, onde quer que viva, possui no DNA traços das diferentes raças humanas, com origem composta em 13% por ascendência indígena, 27% africana e 60% europeia.

A margem de variação nesses índices é muito pequena, a depender da região onde a pessoa nasceu.

“Mais uma vez, a ciência traz esclarecimentos importantes sobre nossa humanidade. O resultado dessa pesquisa, além de valioso para entendermos o processo de colonização e tomada de território, também comprova que atitudes de preconceito não fazem mesmo nenhum sentido”, ponderou a presidente do SAEP, Maria de Jesus da Silva.

 

Leia abaixo a nota da UCB

"A Comissão Disciplinar da Universidade Católica de Brasília (UCB) concluiu, na segunda-feira (26), a análise do caso envolvendo estudantes da instituição. Após criteriosa apuração, foram identificados cinco estudantes envolvidos.

A Comissão decidiu aplicar as punições conforme a gravidade da participação de cada envolvido, com base no regimento interno da UCB. A UCB tem compromisso com a promoção da diversidade, do respeito e da justiça, e não tolera qualquer forma de discriminação.

A Universidade Católica de Brasília (UCB) e a União Brasileira de Educação Católica (UBEC) têm um compromisso inegociável com a diversidade e a inclusão social. A nossa missão é transformar vidas por meio de uma educação inclusiva e de qualidade.

Assim que tomou conhecimento do ocorrido, a Universidade Católica de Brasília acolheu a estudante em reunião realizada com a pró-reitora acadêmica, a coordenadora do curso e uma representante da coordenação acadêmica.

A UCB colocou imediatamente à disposição toda a rede de apoio institucional. A universidade conta com o Núcleo de Inclusão e Orientação Psicopedagógica (NIOP), formado por psicólogos e psicopedagogos responsáveis pela implementação de políticas inclusivas, e com o Centro de Formação em Psicologia Aplicada (CEFPA), clínica-escola que dispõe de professores capacitados para o acolhimento de demandas relacionadas à saúde mental. A estudante, no entanto, optou por não utilizar os serviços oferecidos.

Com o objetivo de preservar sua integridade emocional e garantir a continuidade das atividades acadêmicas, a estudante solicitou o ingresso no Regime Especial de Aprendizagem (REA), instrumento que permite o desenvolvimento das atividades do curso de forma remota, sem prejuízo acadêmico. O pedido foi atendido, e o regime teve início no dia 28 de maio, com duração de 90 dias, prazo máximo previsto pela legislação vigente.

Após a conclusão da análise do caso pela Comissão Disciplinar, todos os envolvidos foram convidados para reuniões individuais, nas quais foram comunicadas as decisões adotadas. A estudante, contudo, informou que não poderia comparecer. Diante disso, a comunicação oficial foi realizada por e-mail, via Ouvidoria da universidade.

A Universidade Católica de Brasília permanece à disposição da estudante e reitera o seu compromisso com o acolhimento, o respeito à diversidade e a promoção de um ambiente acadêmico seguro e inclusivo. A UCB repudia veementemente qualquer forma de racismo, preconceito ou discriminação."

Com agências









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