Brasília, sexta-feira, 26 de abril de 2024 - 12:11 | Atualizado em: 13 de maio de 2024 - 7:59
50 ANOS
Revolução dos Cravos abriu as portas para esquerda brasileira no exílio e inspirou luta contra a ditadura
Por: Leandro Melito*
Portugal foi principal destino de militantes que estavam na Argentina após golpe de 1973 no Chile.
Nas primeiras horas do dia 25 de abril de 1974 forças armadas progressistas derrubaram a ditadura salazarista que governou Portugal por mais de quatro décadas. O movimento conhecido como Revolução dos Cravos não apenas instituiu a democracia no país, mas também levou à independência de ex-colônias na África – cujas lutas de independência foram cruciais para que ela ocorresse – e deu esperança para povos que ainda ansiavam por liberdade, como o nosso. O Brasil de Fato preparou algumas reportagens para contar a história e marcar o aniversário de 50 anos da Revolução dos Cravos. Clique aqui para acessá-las:
No dia 25 de abril de 1974, quando os militares portugueses derrubaram a ditadura fascista em Portugal, que deu início à instauração da democracia no país, o Brasil havia completado dez anos sob ditadura militar (1964-1985), que entrava no período mais duro da repressão.
Parte significativa da militância de esquerda brasileira, assim como artistas e intelectuais perseguidos pelo regime, haviam se exilado no Chile, sob o governo socialista de Salvador Allende. Após o golpe de 11 de setembro de 1973, que terminou com a morte de Allende e o início da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), os exilados buscaram refúgio em embaixadas estrangeiras, e encontraram abrigo nos espaços diplomáticos da Argentina e da França.
“Com o golpe, os que não foram presos obrigaram-se a fugir do país ou se refugiar em embaixadas, lá ficando até órgão internacionais conseguirem acordar com o governo ditatorial chileno a saída segura desses estrangeiros. Estes então vão para Argentina, mas com a condição de deixarem o país o quanto antes”, explica o historiador Rodrigo Pezzonia, pesquisador da Unicamp e autor do livro Guarda um cravo para mim (Alameda, 2019).
Depois de certa desconfiança dos militantes brasileiros que estavam na Argentina “por não crerem que seria possível uma revolução à esquerda vinda de militares”, o historiador aponta que Portugal acaba se tornando o destino dos exilados brasileiros naquele momento, uma “porta de entrada” para a esquerda na Europa. “A maioria acaba por não permanecer e vão para os outros países europeus, mas os que ficam se aliam fortemente ao movimento das Forças Armadas e vão trabalhar junto aos revolucionários na concretização da Revolução nos mais diversos campos.”
Uma vez em Portugal, as organizações de esquerda brasileira logo se alinham às suas “irmãs” portuguesas: Partido Comunista Português (PCP) e Partido Comunista Brasileiro (PCB); Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e União Democrática Popular(UDP); e outros ex-adeptos da esquerda armada brasileira ligados a organizações como Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8), VAR-Palmares (VPR) e Aliança de Libertação Nacional (ALN), “que, após um longo processo de autocrítica, vão se alinhar ao Partido Socialista de Mário Soares”, explica Pezzonia.
“Este último grupo talvez tenha sido o que mais influiu na política brasileira a partir de Portugal após a Anistia e a reestruturação partidária. Foi a partir deste grupo e seu alinhamento com a social-democracia europeia, sobretudo após a chegada de Brizola em terras lusas, que a reestruturação do trabalhismo foi culminando na criação do PDT (Partido Democrático Trabalhista), bem como na introdução da social-democracia no Brasil.”
Colunista do Brasil de Fato, professor titular no Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e militante da Resistência/Psol, Valerio Arcary foi um dos brasileiros que se exilaram em Portugal, em 1966. Ele permaneceu no país europeu até 1978. “A imensa maioria dos trotskistas da minha geração aprenderam que a luta pela revolução socialista era possível lendo livros sobre a revolução de outubro, e as que vieram depois. Eu tinha aprendido vivendo a revolução nos meses intensos do ‘verão quente’ de 1974 em Lisboa”, relatou em sua coluna sobre o retorno do exílio.
Guerras de independência e movimento negro no Brasil
Além de terem um papel central para o desgaste da ditadura fascista e influenciarem diretamente o golpe militar que deu início à Revolução dos Cravos, as guerras de independência nas colônias portuguesas de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde também influenciaram as lutas da esquerda no Brasil, em particular do movimento negro, aponta a historiadora Patrícia Teixeira Santos, docente na Universidade Federal de São Paulo e pesquisadora de Estudos Africanos na Universidade de Bordeaux na França e do Departamento de Estudos Africanos da Universidade de Dehli (Índia).
“São movimentos altamente inspiradores que vão dar força para a manutenção da luta antirracista e um reforço extremamente importante da ideia de um poder negro que ascende, de um governo negro que se estabelece com a vitória contra a exploração colonial, contra uma ditadura. Para o movimento negro no Brasil, as lutas de libertação nacional são um alento no meio da ditadura militar e o incentivo para a continuação dessa militância, mesmo na clandestinidade, de protestos e de uma série de ações.”
Edição: Thalita Pires
*Do Brasil de Fato, republicado pela Contee.
Últimas notícias
Consciência Negra: luta por igualdade de direitos não cessa
12/11 - 19:41 |
Feminicídio: trabalhadora em Educação é a 18ª vítima no DF
12/11 - 19:3 |
Jornada 6x1: PEC resgata debate da redução da jornada e faz máscaras caírem
5/11 - 17:7 |
Enem aborda tema intrínseco à luta sindical em defesa dos trabalhadores
4/11 - 14:34 |
Sindicato: necessária instância coletiva
Notícias relacionadas
Dia Internacional da Mulher
8/10 - 15:3 |
SAEP na campanha contra o câncer de mama
30/4 - 19:24 |
A origem e o significado do 1º de Maio
25/4 - 0:55 | APOSENTADORIA
Reforma da Previdência: entenda principais pontos do novo texto
28/6 - 11:8 | EFEITOS DO GOLPE
Temer quer idade mínima de 70 anos para aposentadoria