Brasília, terça-feira, 16 de outubro de 2012 - 18:19 | Atualizado em: 18 de outubro de 2012
POLÊMICA
Câmeras de vigilância também nas salas de aula do DF
Fonte: Correio Braziliense
Uso de câmeras de segurança começa a ganhar o ambiente escolar. A medida divide opiniões
No Distrito Federal, há cerca de uma câmera de vigilância para cada cinco habitantes. No total, são quase 500 mil equipamentos espalhados por avenidas, corredores, empreendimentos e elevadores.
A maioria passa despercebida no dia a dia do brasiliense, mas, agora, a instalação de filmadoras em um ambiente específico — as salas de aula — provoca polêmica entre estudantes, educadores e familiares.
Em Brasília, pelo menos três instituições particulares adotaram as ferramentas de segurança recentemente: o Ciman (Área Octogonal Sul e Cruzeiro), há mais de 10 anos; o Galois (601 Sul), desde o início do ano; e o Colégio La Salle (906 Sul ), que neste semestre iniciou a segunda fase de implementação dos aparelhos.
Em setembro, 107 estudantes de uma escola de São Paulo acabaram suspensos após protestar contra a colocação de câmeras no interior das salas.
Os alunos do colégio Rio Branco, um dos mais requisitados da capital paulista, foram surpreendidos pelos equipamentos nas salas e organizaram, no horário do recreio, uma manifestação contra a iniciativa da direção. O caso ganhou repercussão nacional e trouxe o debate sobre o monitoramento novamente à tona.
Avô de um aluno do colégio Galois, o aposentado Edelmo Queiroz, 77 anos, é contra a instalação das máquinas em ambiente escolar. "Eu acho que é uma medida invasiva", comenta. "Nem tudo que é dito nas salas de aula deve sair de lá."
Mas o neto de Edelmo, o aluno do 3° ano do ensino médio Thiago Queiroz, 17, não vê problemas no uso das filmadoras. "No início, nós ficamos incomodados, mas, depois, nos acostumamos. Eles conversaram com a gente e explicaram o objetivo da mudança", conta.
Pedro Ponchio, 16 anos, também do Galois, é a favor da presença desses equipamentos. O jovem lembra que as imagens obtidas na turma dele por meio dos aparelhos de vigilância foramaté utilizadas para solucionar problemas.
"Uma vez, jogaram um ovo na sala e só descobriram o responsável por causa das gravações. Acho que é legal colocar as câmeras, é uma medida de segurança", avalia.
Disciplina
Para o sociólogo e antropólogo Antônio Flávio Testa, o monitoramento é bem-vindo ao ambiente escolar, pois pode inibir o bullying, evitar comportamentos violentos e o uso de drogas, além de combater a depredação do patrimônio.
No caso do Galois, por exemplo, a decisão de instalar as câmeras nas salas foi tomada para proteger os recém-instalados computadores.
"A utilização das câmeras pode melhorar o desempenho e a educação", argumenta o especialista. "Brasília já é toda cercada por sistemas de segurança mesmo. Essa é uma situação recorrente para quem mora aqui", avalia.
Testa admite, porém, que o assunto divide opiniões entre os educadores. Ele lembra que, há alguns anos, o governo estudou a proposta de instalar equipamentos de vigilância nas salas de aula, mas os docentes se mostraram contrários.
"Houve bastante resistência por parte dos professores. Muitos achavam que estariam sendo fiscalizados", conta o pesquisador.
Por isso, ele alerta que a instalação dos aparelhos deve ser acompanhada de diálogo com a comunidade escolar para não gerar os problemas enfrentados pela instituição paulista.
Ele explica que é importante esclarecer o objetivo do equipamento e como o monitoramento deverá funcionar, até porque não há uma legislação que trate da utilização das filmadoras nas escolas privadas.
Mesmo assim, todo esse cuidado não é suficiente para evitar danos ao ambiente escolar, na opinião do doutor em psicologia da educação e professor da Universidade Católica de Brasília Afonso Galvão.
Segundo o especialista, o uso desses equipamentos nos colégios pode prejudicar a formação dos alunos.
"Quanto mais as escolas ficarem parecidas com presídios, pior. As instituições de ensino deveriam ser locais de tolerância, respeito e educação, não de vigilância permanente", argumenta.
Galvão avalia que a presença constante das câmeras pode acabar condicionando os estudante a manter um bom comportamento apenas enquanto estão sob as lentes das filmadoras.
Diálogo
O diretor da unidade do Ciman da Área Octogonal Sul, Mark Mello, discorda da avaliação do estudioso. Para ele, se os equipamentos forem adotados da maneira correta, não representarão risco à formação dos estudantes.
"Aqui, nós tivemos o cuidado de discutir a adoção das câmeras com a comunidade acadêmica. Nós debatemos o assunto com os alunos nas aulas de ética e cidadania para construir o conceito de que elas não servem para vigiá-los, são apenas um material de segurança", explica.
O conselheiro do Conselho Nacional de Educação, Erasto Fortes Mendonça, responde à algumas perguntas:
Quais são as vantagens da adoção de câmeras nas salas de aula?
O que estão anunciando como vantagem para essa instalação é o controle da situação interna na escola em relação a possíveis questões de violência. Mas, pessoalmente, acredito que essa interferência externa representada pelas câmeras pode gerar problemas.
Quais seriam esses problemas?
A sala de aula é umambiente onde existe um vínculo de confiança entre professor e estudante. Qualquer interferência externa pode romper com esse pacto pedagógico. Vejo também que esse mecanismo pode ser usado de forma errada, pode ser utilizado para o controle da atividade do professor por parte da gestão da escola.
Os educadores precisam ter certo grau de autonomia na sala de aula, e isso precisa ser respeitado. As câmaras acabam rompendo com o nível de confiança que deve existir nesses ambientes.
Mas, caso seja constatada a necessidade de uso desse instrumento, qual é a maneira mais correta de se proceder?
Eu entendo que vivemos em uma situação de violência constante, que se repercute nas instituições de ensino e nos obriga a adotar esses equipamentos em alguns casos. Mas a direção não tem o direito de fazer uma intromissão externa, sem o entendimento das pessoas que fazem o dia a dia nas escolas. Tem que haver diálogo com a comunidade acadêmica.
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