Brasília, segunda-feira, 27 de outubro de 2025 - 17:37
Trabalhadores à beira do esgotamento: Brasil precisa encarar a redução da jornada como pauta urgente
Pesquisa da FGV e Flash revela que 61% dos profissionais estão desmotivados e que longas jornadas e falta de flexibilidade destroem o engajamento e a saúde mental dos trabalhadores
A maioria dos trabalhadores brasileiros está no limite. De acordo com a pesquisa “Engaja S/A”, da FGV-Eaesp (Fundação Getúlio Vargas), em parceria com a Flash, 6 em cada 10 profissionais pensaram em pedir demissão em 2025. Trata-se de cansaço generalizado e desejo de desistir mesmo diante do prejuízo financeiro que essa decisão causaria.
O dado expõe a crise silenciosa no mercado de trabalho: 61% dos brasileiros estão desengajados.
A pesquisa aponta ainda que a fadiga, a desconfiança e a estagnação dominam os ambientes corporativos.
As empresas se tornaram mais rígidas e reduziram a escuta no momento em que os trabalhadores passaram a valorizar mais a autonomia, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e o propósito.
Preço do desengajamento: R$ 77 bilhões por ano
A falta de motivação tem custo alto. O estudo estima que o desengajamento dos funcionários/trabalhadores gera prejuízos anuais de até R$ 77 bilhões para as empresas brasileiras — sendo R$ 71 bilhões apenas com rotatividade e R$ 6,3 bilhões decorrentes do chamado presenteísmo — quando o trabalhador está presente, mas improdutivo.
Metade dos trabalhadores desmotivados admite perder até 2 horas de produtividade por dia.
Escalas longas, engajamento curto
As jornadas excessivas são parte central do problema. A pesquisa mostra que profissionais em jornadas de 6×1 ou 12×36 estão entre os mais exaustos.
• Escala 6×1: apenas 40% estão engajados; e
• Escala 12×36: o índice cai para 36%.
Esses trabalhadores relatam taxas elevadas de ansiedade, fadiga e insônia. Entre os que cumprem 12×36, 23% dizem ter ansiedade diária, 22% sofrem de fadiga e 14% apresentam sintomas de depressão.
Já aqueles que trabalham 4 dias por semana apresentam engajamento de 53% —dado que reforça a urgência de discutir a redução da jornada de trabalho no Brasil, pauta que não avança no Congresso Nacional.
Propostas em debate no Congresso
O tema da redução da jornada de trabalho sem redução salarial está ganhando corpo em Brasília. Entre as principais propostas estão:
• PEC 221/19, do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), que altera o Art. 7º inciso XII da Constituição, para reduzir a jornada de trabalho a 36 horas semanais em 10 anos. Aguarda designação de relator na CCJ.
• PEC 8/25, da deputada Erika Hilton (PSol-SP), que “Dá nova redação ao inciso XIII, do artigo 7° da Constituição para dispor sobre a redução da jornada de trabalho para 4 dias por semana no Brasil.” Proposta aguarda despacho do presidente da Casa.
• Debates na Comissão de Trabalho da Câmara, que têm reunido representantes de empresas, sindicatos e especialistas para avaliar impactos econômicos e sociais de jornadas mais curtas.
Experiências internacionais — como no Reino Unido, Portugal e Islândia — mostraram aumento de produtividade, melhora da saúde mental e queda no absenteísmo.
Saúde mental e produtividade andam juntas
1 em cada 5 profissionais brasileiros enfrenta diariamente ansiedade, insônia ou fadiga, segundo o estudo. Entre os jovens da chamada “Geração Z”, o número sobe para 25%.
A pesquisa reforça que remuneração alta não compensa ambientes tóxicos. Relações de confiança, tempo para projetos pessoais e autonomia são fatores decisivos para o engajamento — e estão entre os piores avaliados.
Crise das lideranças
Nem os chefes escaparam. O estudo identificou “crise silenciosa de engajamento entre líderes”: o índice entre executivos caiu de 72% para 65% em 1 ano. 3 em cada 4 líderes relatam fadiga frequente e 25% convivem com ansiedade diária.
A desmotivação nas chefias cria efeito cascata que fragiliza toda a estrutura organizacional.
Novo pacto pelo trabalho
A pesquisa da FGV é um espelho incômodo de um país que trabalha muito e descansa pouco.
Enquanto parte do mundo experimenta modelos mais humanos e produtivos, o Brasil ainda resiste em atualizar as práticas laborais.
A redução da jornada, com proteção de direitos e equilíbrio entre vida e trabalho, não é utopia — é necessidade econômica e social. O desafio está lançado: repensar o tempo dedicado ao trabalho é repensar o próprio futuro do País.
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