Brasília, terça-feira, 14 de abril de 2009 - 15:44
EDUCAÇÃO PÚBLICA
Escolas da rede pública funcionam no primeiro dia de greve
Fonte: Correio Braziliense
Apenas 8,7% das unidades de ensino ficaram totalmente sem aulas devido à paralisação dos docentes, segundo o governo. Piquetes renderão multa
No primeiro dia de paralisação dos professores da rede pública, a grande maioria das escolas teve aulas. Mesmo assim, parte dos 520 mil alunos acabou prejudicada porque 20,8% dos docentes não entraram em sala. A greve deve durar, pelo menos, até amanhã, quando a categoria realizará nova assembléia para decidir o futuro do movimento.
As negociações continuam hoje, em uma reunião entre o governador José Roberto Arruda, representantes do Sindicato dos Professores (Sinpro), do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
A greve dos professores foi considerada legal pela Justiça, que proibiu, entretanto, a prática do piquete na porta das escolas sob pena de o Sinpro pagar multa diária de R$ 15 mil. A Procuradoria-Geral do DF entrou com ação contra a greve na última quarta-feira, mas foi atendida apenas parcialmente pelo desembargador plantonista do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios Fernando Antônio Habibe Pereira.
Ele definiu ainda que 50% dos serviços da Secretaria de Educação sejam mantidos. A multa em caso de desrespeito também é de R$ 15 mil por dia, mas o Sinpro pretende contestar a decisão. “Vamos repor depois as aulas perdidas, por isso não vemos a necessidade disso”, disse Washington Dourado, um dos diretores sindicais.
Ontem o que se viu nas escolas foram salas mais vazias. No Centro de Ensino 2 do Guará, por exemplo, cerca de 10% dos alunos apareceram, segundo levantamento da direção. “Vários aproveitaram para aumentar o feriadão. Já professores, pela manhã, vieram 10 dos 28”, informou a vice-diretora Vera Dória.
A escola agrupou mais de uma turma na mesma sala. Apesar do esforço, Bruno Medeiros, 18 anos, do 2º ano do ensino médio, teve duas das seis aulas previstas para o dia. “Teve professor que disse que daria matéria nova. Por isso, resolvi não arriscar”, explicou.
Apelo renovado
Das 622 escolas da rede pública, apenas 54 (8,7%) pararam totalmente no turnos matutino e vespertino. Em 362 (58,20%), a paralisação foi parcial. As unidades restantes tiveram aula normalmente.
Os dados sobre a greve são da Secretaria de Educação, que informa ainda que 5.844 professores, ou 20,8% do total de 28 mil, não compareceram ao trabalho. O ponto dos faltosos deve ser cortado.
O apelo para que os pais mandem os filhos à escola foi renovado pelo secretário de Educação, José Luiz Valente. “Já foram convocados 1.089 professores substitutos e serão chamados tantos quanto forem necessários. Chamamos os pais a levarem os filhos para a escola porque essa é a melhor maneira de garantir o cumprimento do calendário escolar”, disse ele.
Durante a manhã de ontem, o governador José Roberto Arruda inaugurou o Centro de Ensino Fundamental (CEF) 1 da Estrutural, mas disse que a solenidade nada tinha a ver com a greve.
“A inauguração já estava programada. Até cogitamos adiá-la, mas esses alunos já sofreram muito”, afirmou o governador, que deve participar nesta semana de outras cerimônias ligadas aos docentes. Nos dias 16 e 17, mais 3 mil laptops subsidiados pelo GDF serão entregues a professores da rede pública.
O CEF 1 da Estrutural substitui uma antiga escola de madeirite. A estrutura atende a 1.360 alunos, e a escola receberá mais 800 no próximo semestre, no turno da noite. Os alunos do colégio costumavam estudar no Guará e comemoram a novidade.
“Antigamente eles pegavam o transporte do governo, mas a gente ficava preocupado”, lembrou a diarista Lenice Moura, tia de João Vitor Alves, 9 anos, que cursa a 3ª série. Para a diretora do CEF 1, Maurinéia Esperança Nunes, a nova estrutura é um sonho: “Agora temos laboratório de informática, sala de leitura e até um ginásio coberto”. Segundo a diretora, todos os professores trabalharam ontem.
Reivindicações
Os professores exigem 15,31% de reajuste salarial, previsto pelo plano de cargos e salários da categoria, para voltarem ao trabalho. O índice diz respeito ao aumento do Fundo Constitucional repassado pelo governo federal ao DF.
O GDF pede, entretanto, mais três meses de paciência aos docentes para avaliar os prejuízos causados aos cofres públicos pela crise econômica mundial.
Uma solução para o imbróglio pode sair de reunião marcada para as 17h de hoje no gabinete do governador. Arruda deve receber representantes do Sinpro, MPT, OAB, MPDFT e deputados federais e distritais para discutir alternativas para a greve.
O martelo deve ser batido amanhã pela manhã, no estacionamento do Centro Administrativo do GDF, em Taguatinga, durante a assembléia-geral dos professores.
No GDF, a decisão é de que não haverá nenhum aumento salarial para os professores se o governo federal mantiver os cortes de R$ 330 milhões no repasse deste ano para o Fundo Constitucional. Os técnicos do Executivo local consideram que apenas 1% de reajuste agora significaria custo anual de R$ 30 milhões.
Com esse dinheiro, seria possível construir seis escolas públicas, como a inaugurada ontem na Estrutural. Se o aumento for de 15%, a despesa adicional chegará a R$ 500 milhões, ou 100 novas escolas.
A greve dos docentes foi tema de uma observação feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Arruda. Em cerimônia no Palácio do Buriti na manhã de ontem, Lula — após perceber uma manifestação de cerca de 150 estudantes em favor do movimento — comentou que a paralisação estava fora de hora.
Segundo pessoas próximas às autoridades presentes ao evento, que oficializou convênio entre os três poderes para agilizar a Justiça, Lula desaprovou a atitude dos grevistas como fez recentemente ao condenar o pedido de aumento na atual circunstância: “Será que esses servidores não enxergam que a gente está no meio de uma crise?”.
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