Precisamos falar sobre racismo e outros preconceitos

Brasília-DF, quinta-feira, 26 de dezembro de 2024


Bras�lia, sexta-feira, 26 de abril de 2024 - 11:7      |      Atualizado em: 13 de maio de 2024 - 7:59

Precisamos falar sobre racismo e outros preconceitos


Por: Maria de Jesus da Silva*

Começo esta reflexão, com pergunta aos alunos do Colégio Galois. Qual o problema em ser preto/a, pobre e filho/a de empregada doméstica?

Em nome do SAEP e de toda a diretoria da entidade, expresso a mais sincera solidariedade aos alunos e à Escola Franciscana. Ao mesmo tempo, manifestamos veemente e profundo repúdio contra essas manifestações violentas, atrasadas e vexatórias de racismo e outras formas de preconceitos sofridas por eles.

Faço-o, primeiro, na condição de pobre e, depois, como mulher e preta.

No dia 3 de abril, estudantes o Colégio Galois teriam usado palavras como “macaco”, “pobrinho” e “filho de empregada” para discriminar os da Franciscana. Diante do ocorrido, é nítido o quanto precisamos falar sobre racismo e outros preconceitos.

O Brasil tem enorme e, talvez, impagável dívida social com os negros deste País. É importante lembrar que, aqui nestes trópicos, o País foi o último do mundo a abolir a escravidão, depois de 388 anos de escravismo. Os negros, por aqui, não são os mais pobres e sem oportunidades porque querem.

Desigualdades impostas
Essa condição é imposta por séculos de desigualdades, que precisam ser solucionadas por meio de políticas públicas, para minorar essa situação até que se acabe de vez essa desigualdade que subalterniza a imensa maioria negra deste País.

Lembremos que ricos neste Brasil talvez representem apenas 1% da população nativa. Os outros 99% são pobres. Mesmo aqueles remediados, a chamada “classe média”, com suas variações, é pobre. Isto, porque não vivem de renda, mas de salário, ainda que mais bem aquinhoados. Assim, somos todos pobres.

Precisamos falar também sobre o preconceito contra o trabalho. Porque, no Brasil, o trabalho, sobretudo aqueles mais humildes, é vilipendiado.

Fora de nossas casas, sempre somos atendidos por alguma trabalhadora ou trabalhador. Como pode, em pleno século 21, esse tipo de preconceito ainda vicejar na sociedade brasileira? Isto talvez porque estejamos sempre escamoteando esse debate.

Não há mal nenhum ser empregada doméstica ou filho de empregada doméstica. O mal mesmo está no preconceito, que produz o racismo, que é condicionado pela ignorância. Por isso, precisamos falar sobre racismo e outros preconceitos.

Estamos preocupados com os trabalhadores e trabalhadoras auxiliares do Galois. Se os alunos dessa escola fizeram o que fizeram com os da Franciscana ficamos a imaginar como esses profissionais — que são pobres, alguns negros e, talvez, muitos filhos de empregadas domésticas —, são tratados.

Desagravos
Para que isso não passe em “brancas nuvens”, propomos 2 atos. O primeiro na Escola Franciscana, para afirmar em alto e bom som, que não há mal em ser pobre, preto ou filho de doméstica. O mal é o preconceito.

O segundo no Colégio Galois, para que pais e alunos dessa escola percebam que o mal reside no preconceito e que o expressado pelos alunos, dia 3 de abril, precisa ser reparado de algum modo.

Precisamos, sinceramente, falar sério sobre o racismo e outros preconceitos.

(*) Presidente do SAEP e estudante de direito.









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