Brasília, quinta-feira, 20 de junho de 2013 - 18:30
MANIFESTAÇÕES
Artigo: A rebeldia juvenil e a política
Por: Marcos Verlaine* |
Finalmente começa a reaparecer a rebeldia juvenil brasileira. Ainda não é possível dizer aonde vai parar toda essa movimentação cuja agenda é difusa e dispersa. Mas uma coisa é certa: essa moçada que invade as ruas está a fim de mudanças e rejeita a política tradicional.
Aquela política dos partidos, dos acordos, das tramóias, que para essa nova geração não cheira bem e, em geral, é para que alguns se dêem bem. É claro que se trata de uma visão preconceituosa e simplista, mas é aceita assim, acriticamente, porque é como a política é difundida pelos grandes meios de comunicação controlados por meia dúzia de famílias no Brasil.
Mas diante de toda essa mobilização e radicalização contra o que chamam, acham ou entendem por "política tradicional" é importante chamar a atenção para uma ideia que vem sendo difundida e não me parece ser correta: que os gastos com a Copa de 2014 poderiam ser investidos em áreas como saúde, educação, segurança e mobilidade urbana.
Apenas um evento desses foi realizado no Brasil, em 1950. A Copa, a propósito, foi vencida pelo Uruguai sobre o Brasil por 2 a 0. Foi uma tragédia nacional nunca superada pela historiografia oficial.
Estes problemas estruturais brasileiros que a massa juvenil clama por solução nada têm a ver com a realização da Copa no Brasil. Não consta que antes de 1950 esses problemas não existiam ou que pioraram de lá para cá.
E mais: o evento em si é muito importante para o País, pois gera emprego, renda, dá visibilidade positiva para o Brasil e o povo e com certeza seus desdobramentos e legados serão muito positivos.
Esses problemas têm relação com o fato de nunca terem sido priorizados nas agendas sociais dos sucessivos governos desde a proclamação da República. E claro, que foram se tornando problemas estruturais cada vez mais graves, que requerem cada vez mais recursos para que sejam resolvidos. E, de modo geral, não são enfrentados de frente e muito menos com visão estratégica pelos governos municipais, estaduais e federal.
Mas como esses e outros problemas sociais serão resolvidos?
Pela política, mais especificamente pela ampla participação política como estão a fazer neste momento.
Foram as amplas mobilizações que impuseram aos governantes a redução da tarifa do transporte urbano. Mas, no entanto, só isto não é suficiente. É preciso mais. Mas, já é um bom começo. Isto é política.
Não há solução para os grandes, graves e estruturais problemas sociais brasileiros fora da política, com ampla participação popular.
Essa rebeldia juvenil, que questiona a tudo e todos é muito perigosa, pois pode ser capturada por uma agenda conservadora daqueles que são responsáveis pelas nossas mazelas sociais seculares, que agora pousam de "mudancistas".
O Brasil é uma democracia representativa, portanto, nas eleições elegemos homens e mulheres para nos representarem nas instâncias de poder. Então somos, por esta razão, co-responsáveis por esses eleitos. Se a representação está precária, é questionável e não consegue interpretar e verbalizar as demandas populares, é porque as escolhas não estão sendo feitas adequadamente.
A rebeldia sem uma agenda clara, sem lideranças para negociar as demandas que estão sendo expostas nas manifestações de rua, que rejeita a política como meio legítimo de superação desses problemas pode redundar numa crise de proporções ainda maiores, pois pode cair no senso comum do apoliticismo paralisante. Que pensa que nada adianta fazer, porque não haverá mudanças.
É preciso casar essas e outras insatisfações com o aprofundamento das mudanças que têm permitido à parcela expressiva do nosso povo melhorar de vida, aumentar a renda, a educação e viver mais feliz.
Assim, é relevante não permitir de forma alguma que a rebeldia juvenil seja capturada pela agenda conservadora. E pior. Descasada da política, dos partidos, das lideranças, das organizações sociais como meios de canalizar adequada e democraticamente as demandas sociais.
(*) Jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap
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