Opinião: Perfil dos candidatos às eleições de 2016 e 2018

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Brasília, quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016 - 11:14

Opinião: Perfil dos candidatos às eleições de 2016 e 2018


Por: Antônio Augusto de Queiroz*     |    

A eleição de 2016 será a primeira, depois de 22 anos, em que foi proibido o financiamento empresarial de campanha. Embora se trate de uma eleição municipal, é possível antecipar algumas tendências quanto à eleição de parlamentares que poderão também se verificar na eleição geral de 2018.

Registre-se, antes de qualquer análise, que o eventual favorecimento ao perfil de candidato apontado neste artigo está associado ao momento político que se vive no Brasil e não especificamente ao fim do financiamento empresarial de campanha. Este, em outras circunstâncias, teria o condão de reduzir a influência do poder econômico nas eleições e melhorar a representação no Parlamento.

A premissa inicial para as eleições de 2016 e 2018, caso não mude radicalmente a conjuntura política até lá, é de que quatro categorias de candidatos poderão ser beneficiadas na disputa: 1) os endinheirados ou os ricos, 2) as celebridades, 3) os fundamentalistas, e 4) os candidatos vinculados aos movimentos sociais.

A categoria dos endinheirados, que bancariam sua campanha com recursos próprios, seriam os principais beneficiários. Eles não teriam problema quanto à divulgação da candidatura e a contratação de cabos eleitorais, já que não dependeriam de doações, nem empresarial nem de cidadãos, para garantir recursos para a campanha.

O candidato que se elege com recursos próprios pode fazê-lo por alguns motivos: 1) por vaidade, quer ser reconhecido como autoridade; 2) por ressentimento de alguma situação passada, em que a política pode ser instrumento de superação; 3) para enriquecer ainda mais no exercício do mandato; 4) para promover causas ou defender valores em que acredite sinceramente; ou, o menos provável, 5) por idealismo ou para defender o interesse público.

O grupo de celebridades, igualmente, seria beneficiado porque possui fã-clube e seguidores que só deixariam de votar em seus ídolos se tivessem uma motivação para tanto, seja material, como dinheiro, ou simbólica, como prestígio, por exemplo. Como os demais candidatos, exceto os endinheirados, muito provavelmente não teriam muito a oferecer em termos de benefícios – especialmente neste ambiente de descrença na política, nos governantes e até nas instituições – esses eleitores, certamente, canalizariam seus votos para candidatos famosos.

Os famosos, eleitos pela condição de celebridade, como regra, além de ingênuos, são pouco efetivos no exercício do mandato. São exemplos disso Agnaldo Timóteo, Clodovil, Moacyr Franco, Ratinho, Tiririca, Sérgio Reis, etc. Podem até ser assíduos – como Tirica – mas são como corujas: não falam, mas prestam muita atenção!

Na categoria de celebridade incluem-se não apenas os artistas e jogadores de futebol, como também os apresentadores de rádio e TV voltados para as tragédias cotidianas do povo brasileiro, como os programas policiais, de “defesa do consumidor”, de defesa da família, da moral e dos “bons” costumes, de arrecadação de donativos, enfim, programas de caráter populista.

Os candidatos classificados como fundamentalistas, que inclui basicamente religiosos, especialmente os pastores e bispos evangélicos, teriam dupla vantagem nesse formato de campanha: voto fidelizado pela fé e enorme capacidade de arrecadação de doação individual dos fiéis para a campanha.

Embora sociologicamente não seja apropriado, também poderia ser incluído na categoria fundamentalista nomes que se destaquem na cruzada em defesa de valores e/ou causas. São exemplos disso, caso decidissem concorrer, nomes como o de Joaquim Barbosa, relator do chamado mensalão, e Sérgio Moro, juiz da Lava-Jato, que contariam com doações voluntárias de cidadãos em todo o País.

Já os candidatos vinculados aos movimentos sociais, que naturalmente contariam com maior número de militantes, e possivelmente com alguma capacidade de arrecadação, poderiam ter esse ativo político comprometido em face da desilusão com a postura do governo Dilma, que foi eleita com um programa apoiado por esses movimentos e, por força das circunstâncias, tem sido levada a apoiar agenda de seus adversários, como as privatizações e reforma da Previdência, que conflitam claramente com sua base social.

Assim, mesmo com a proibição do financiamento empresarial às campanhas políticas, a tendência – caso prevaleça a deseducação política, a descrença nos governantes e nas instituições e o atual sectarismo – é que a qualidade do Parlamento – municipal, estadual e federal – poderá ser pior que o atual. É urgente o resgate da política e da cultura cívica, com a mobilização de militantes sociais e formação de quadros nos partidos de esquerda e nos movimentos sociais para alterar essa correlação de forças.

(*) Jornalista, analista político e diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap)









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