Brasília, quinta-feira, 11 de setembro de 2025 - 13:31
Condenação ou anistia para os golpistas de 2023
Por: Marcos Verlaine*
O historiador brasileiro Carlos Fico evidencia, no livro Utopia autoritária brasileira, como os militares ameaçam a democracia brasileira desde 1889. Na nova obra, ele sustenta que o perdão é traço recorrente da história nacional. Todavia, sem o resultado desejado, que seria a pacificação do País. Ao contrário.

Em Utopia autoritária brasileira, o professor e pesquisador do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) analisa as principais intervenções militares que moldaram a trajetória republicana do País.
“O Exército brasileiro sempre desrespeitou a democracia. As Forças Armadas violaram todas as constituições da República. Rebeliões contra decisões legítimas; sublevações por corporativismo; golpes de Estado e tentativas de golpe.”
“Indisciplina e subversão marcaram a trajetória dos militares no Brasil. Eles estiveram por trás de todas as crises institucionais desde a Proclamação da República [15 de novembro de 1889] e nunca foram realmente punidos.”
“Esse intervencionismo militar revela a fragilidade institucional da democracia brasileira até hoje – como ficou evidente nos últimos anos.”
“Petardos”
Esses “petardos” encontram-se na apresentação de Utopia autoritária brasileira, obra mais recente — e também a última — do historiador Carlos Fico, professor do Instituto de História da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e um dos maiores especialistas na “ditadura militar brasileira”.
Com quase 500 páginas, publicado pelo selo Crítica da Editora Planeta e com revisão técnica de João Roberto Martins Filho, o livro já está disponível nas livrarias.
Segundo Fico, desde o fim do Império, em 1889, até os acontecimentos mais recentes que colocaram em risco a estabilidade democrática, as Forças Armadas mantêm visão de mundo que desconfia da política e se enxerga como guardiã da Nação.
Eles se acham a chamada “reserva moral” do Brasil. Eles se deram esse título.
Ele define essa lógica como “utopia autoritária brasileira”, sustentada pela crença de que os militares seriam mais aptos do que os civis para conduzir os destinos do País.
Além da conjuntura
Entretanto, Fico não se limita à crítica imediata. Ele investiga como essa mentalidade foi construída ao longo do século 20, e exploramarcos como o Estado Novo, o golpe de 1964 e, mais recentemente, a atuação de setores militares no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A propósito, o ex-presidente e outros 31 réus estão em julgamento no STF por tentativa de golpe de Estado. Algo inédito no Brasil. Bolsonaro e os demais, inclusive muitos militares de altíssima patente, deverão ser condenados.
O elo entre esses episódios, segundo o autor, é a rejeição ao pluralismo democrático em nome de uma suposta ordem superior.
A obra revisita episódios decisivos, como o golpe da República, as intervenções militares dos anos 1920, a participação nas crises dos governos Vargas e Jango, além dos momentos mais representativos do autoritarismo militar, como o golpe de 1964 e o parlamentarismo imposto a João Goulart, que assumira a Presidência em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros.
Com títulos provocativos — “O pior da história do Brasil”, “Duplo golpe”, “O pecado original da República” —,Fico sustenta a tese central da obra dele: a tutela militar sobre a democracia brasileira não é acidente histórico, mas tradição política profundamente enraizada.
Momento estratégico
A publicação surge em momento decisivo. Depois dos ataques às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, o debate sobre o papel das Forças Armadas voltou a ocupar o centro da política nacional.
Mais do que resposta circunstancial, Fico propõe análise estrutural — e crítica — da presença militar no imaginário e na prática do poder político brasileiro.
(*) Jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap
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