Marcha das Margaridas reivindica “Brasil justo”

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Brasília, quarta-feira, 17 de agosto de 2011 - 16:37      |      Atualizado em: 18 de agosto de 2011

COMUNIDADE RURAL

Marcha das Margaridas reivindica “Brasil justo”


Fonte: Portal Vermelho, com Agência Contag

Projetos agrícolas expulsam população rural, quilombola e indígena e aumentam índice de violência e prostituição

Agência Câmara

As milhares de mulheres que encheram as ruas de Brasília, nesta quarta-feira (17), na 4º Marcha das Margaridas, demonstraram organização e unidade na luta pelo desenvolvimento sustentável com justiça, autonomia, igualdade e liberdade, contra o modelo de produção rural vigente no País, que favorece o latifúndio, destrói o meio ambiente e expulsa as comunidades rurais.

Do alto do carro de som, as oradoras faziam denúncias, apresentavam reivindicações e gritavam palavras de encorajamento.

A caminhada, que saiu às sete horas da manhã do Parque da Cidade, na área central da cidade, chegou pouco depois das 10 horas no Congresso Nacional, onde três carros de som comandaram a manifestação.

Além dos discursos, de lideranças dos movimentos sociais e parlamentares, as mulheres, acompanhadas por um bom número de homens, dançaram ao som do Canto das Margaridas: "Brasília está florida/ Estão chegando as margaridas".

O sol e o ar seco – a umidade relativa do ar em Brasília nesse período do ano fica em torno de 20% - não desanimaram as manifestantes.

A pedido da oradora, "para demonstrar a parceria nessa luta pela construção de um mundo com amor, solidariedade, igualdade e esperança no futuro", as mulheres deram as mãos e dançaram o Canto das Margaridas ao som de tambores.

Representantes de cada uma das regiões discursaram. Elas destacaram que a concentração de terra no Brasil é a maior do mundo.

E defenderam a democratização da terra como medida fundamental para garantir direitos do povo do campo e da florestal e o "desenvolvimento sustentável com justiça, autonomia, igualdade e liberdade", mote da manifestação.

As manifestantes também lembraram que o modelo de produção vigente no Brasil favorece as grandes propriedades, o latifúndio, e destrói o meio ambiente, com o uso de muito agrotóxico, que envenena a terra, a água e os alimentos.

E denunciaram ainda que os grandes projetos agrícolas expulsam as populações rurais, quilombolas e indígenas e aumentam índice de violência e prostituição.

Esperança e dignidade
O presidente da Contag, Alberto Broch, saudou as entidades organizadoras do evento "que traz esperança e dignidade para a mulher do campo, que tem dupla e tripla jornada"

E destacou as principais reivindicações das mulheres do campo, que vão desde a democratização dos recursos naturais, em defesa do agroextrativismo, da terra, da água e da floresta viva, até ampliação da participação das mulheres do campo e da floresta nos espaços de poder e decisão política no País.

Para Liége Rocha, secretária Nacional da Mulher do PCdoB, que se misturou às manifestantes, "essa quarta edição da Marcha das Margaridas é uma demonstração de que as mulheres continuam avançando, avançando, avançando em busca da construção de um mundo de igualdade, garantia de seus direitos e desenvolvimento desse país.

E disse ainda que "essa manifestação de mulheres do Brasil inteiro, que se mobilizaram, se organizaram e aqui estão, demonstra a vontade de transformar esse país e ser protagonistas da história".

A atriz Letícia Sabatela, da ONG Humanos Direitos, fez chorar as manifestantes ao prestar homenagem "a todas as mulheres que já morreram, mas cuja luta permitiu que hoje estejamos aqui, após séculos de opressão, confinação, exclusão, nós sabemos que hoje estamos aqui podendo protestar por um mundo mais justo e igualitário, por mais terra e água", disse.

Com a Presidente Dilma
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), usando um chapéu igual ao das manifestantes, disse que "essa Marcha é especial porque é a primeira vez que ocorre com uma mulher presidindo nosso País", destacando que é preciso avançar nas conquistas.

"Se por um lado temos a presidenta Dilma Roussef no Planalto, ainda temos no Congresso Nacional uma representação de mulheres muito pequena e essa realidade tem que ser mudada", defendeu.

Os parlamentares, assim como as manifestantes, acreditam no poder de pressão do evento para ver atendida suas reivindicações.

"Consegue tanto que a Presidente da República vai até elas, no Parque da Cidade, no ato de encerramento das "Margaridas", porque considera importante o trabalho das mulheres brasileiras que produz, mas também cuida da mente", afirmou o senador comunista.Dilma Rousseff entrega caderno de resposta às Margaridas

Encerramento
A presidenta Dilma Rousseff entregou nesta quarta-feira,17, último dia da Marcha das Margaridas, o caderno de respostas às reivindicações feitas. Dilma apresentou as respostas a Carmen Foro, secretária de Mulheres da Contag.

A presidenta se auto intitulou Margarida e usou, durante todo seu discurso, um chapéu de palha com fitas roxas, símbolo das trabalhadoras rurais e do evento.

Dilma esbanjou simpatia e logo ganhou sorrisos, corações e mensagens das margaridas presentes. No início de seu discurso, a presidenta lembrou que recebeu o convite para 4ª Marcha das Margaridas assim que tomou posse e isso influenciou em sua ida ao evento.

Dilma também falou das reivindicações feitas. Ela afirmou que o Governo Federal ainda não acatou todas as exigências, mas se comprometeu em continuar conversando.

“Muitas das demandas foram acatadas, outras demandas nós vamos continuar a conversa. A maior conquista dessa marcha das margaridas é a continuidade do diálogo com o governo. Eu me comprometo a dar continuidade a esse dialogo respeitoso e companheiro que nós temos, iniciado no governo Lula”, prometeu a presidenta.

O presidente da Contag, Alberto Broch, comemorou a realização da marcha e assegurou que este é um momento histórico na vida das mulheres do campo. Alberto se emocionou em alguns momentos e citou as mulheres como fundamentais na continuidade de vida no campo.

“Desigualdade, violência e falta de poder aumentam o êxodo rural. Queremos um campo com gente, com rostos humanos, com homens e mulheres construindo o fortalecimento rural sustentável e, nesse papel, as mulheres são fundamentais”, assegurou.

Alberto ainda fez uma proposta à presidenta Dilma Rousseff para que haja uma política de fortalecimento da agricultura familiar e do acesso à terra. Isso, segundo Broch, seria indispensável em um novo modelo de desenvolvimento sustentável.

“Tomo a liberdade de propor à presidenta, um grupo que venha discutir um novo modelo de reforma agrária e agricultura familiar, imprescindíveis para o crescimento da sustentabilidade na vida no campo”, finalizou Alberto.

Outra a discursar foi Carmen Foro. A secretária, mesmo sem voz, reclamou da violência contra as camponesas e valorizou a presença das mulheres.

“São mulheres que passaram muito sacrifício para estarem aqui. Não é fácil para nós. Posso afirmar que estar aqui hoje já é um ato de vitória das mulheres trabalhadoras do campo e da floresta”, disse Carmen.

Além da presidenta Dilma e dos representantes da Contag, estavam na mesa o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, ministros e ministras, como Iriny Lopes, Gleisi Hoffmann e Gilberto Carvalho, e enviados de entidades parceiras da Contag. (Agência Contag de Notícias)

Novatas e veteranas
Quem veio pela primeira vez, se encantou. Quem já participou das outras edições também se maravilhou com a evolução do movimento.

Todas prometem voltar na próxima edição. Elas acreditam que a manifestação consegue alterar a realidade que vive em suas regiões, marcada ainda por grandes dificuldades.

Antônia Martins da Silva, de Tamboril, no Ceará, que participa pela primeira vez que, disse estar adorando. Ela considerou a manifestação muito bonita e acredita que ajuda a mudar a realidade da sua cidade, onde o acesso à terra é muito difícil.

Aliado a isso, ela queixou-se da falta de assistência médica no campo. Antônia obedece ao perfil das manifestantes. Tem 55 anos, é solteira e mãe de três filhos.

Do outro lado do Brasil veio Waldemila Correia dos Santos, que mora em Presidente Epitácio, no Pontal de Paranapanema, em São Paulo. Ela, que participa pela segunda vez do evento, também se maravilhou com a manifestação e percebeu que está mais "evoluente" (sic).

Na cidade dela, o problema não é a falta de terra. Ela diz que é assentada da reforma agrária, mas reclama da falta de assistência técnica. Waldemila, de 56 anos, separada, mãe de um filho, afirma que "não vamos conseguir 100%, mas vamos mudar", diz sobre o resultado da manifestação.

Evaneide Vieira Ribeiro, 51 anos, solteira, mãe de três filhos, veio do interior da Bahia. Ela também participa pela segunda vez do evento e manifesta o desejo de continuar participando.

Em Canarana, na Bahia, onde vive, ela diz que tem terra, mas não tem recursos para investir na agricultura. Com a manifestação, que ela considera que melhorou muito desde a última vez, espera ver melhorar também a situação de vida na sua cidade.

No Sul, a situação das mulheres do campo já está mais evoluída. A queixa de Josefa Bolinski de Moura, 58 anos, casada, mãe de um filho, é de atraso no pagamento da Compra Direta.

"A gente vive na Vila Rural e faz parte do Compra Direta. A gente produz e vende ao governo que distribui com creches, escolas etc. Esse ano, nós estamos com essa dificuldade (de receber o pagamento)", conta ela.

A manifestante que veio de Cidade Gaúcha, no Paraná, acredita nos resultados positivos da Marcha. "A gente tem esperança e fé para mudar, por isso a gente está aqui", avalia.

O que faz um homem na Marcha das Margaridas? "Como em tudo na vida, ajuda e apoia a mulher", diz Edimilson Fraga, 46 anos, casado, pai de duas filhas, que veio de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, para participar pela primeira vez da Marcha das Margaridas. "Um movimento como esse não só altera (a realidade), como já alterou colocando mais mulheres nessa direção", afirma.

Vários parlamentares também estiveram na Marcha das Margaridas. O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) e o deputado Assis Melo (PCdoB-RS) conversaram e posaram para fotos com as manifestantes.

Na opinião deles, a Marcha das Margaridas representa "a reivindicação justa do povo brasileiro, muito mais que a dos banqueiros, que é a da usura", resume o senador Inácio Arruda, do lucro.









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