Cada vez mais, ensino superior se torna um negócio lucrativo

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Brasília, terça-feira, 8 de julho de 2014 - 11:28

EDUCAÇÃO

Cada vez mais, ensino superior se torna um negócio lucrativo


Fonte: O Tempo/Belo Horizonte

Ênfase comercial é criticada, mas sistema pode ser interessante para governo com recursos limitados

A educação superior no Brasil está cada vez mais nas mãos de empresas com fins lucrativos. De 2002 a 2012, o número de alunos do ensino superior no Brasil duplicou e chegou a sete milhões. Mesmo assim, com apenas 17% dos brasileiros entre 18 e 24 anos na faculdade, existe uma lacuna que precisa ser preenchida. O governo prometeu aumentar essa porcentagem para 33% até 2020.

Para atender esse lucrativo mercado em crescimento, fundos de investimento privados norte-americanos e brasileiros, corporações e bancos de investimentos estão comprando e integrando instituições de ensino em ritmo acelerado.

Os especialistas em educação alertam que a ênfase no aspecto comercial da educação nem sempre coloca os alunos em primeiro lugar. Apesar de tais preocupações, o sistema comercial provou ser interessante para um governo com recursos limitados.

“O governo não teve escolha a não ser trabalhar com o setor privado. Ele não consegue atender a demanda sozinho”, declarou Fernando Iunes, diretor geral do banco de investimento do Itaú BBA no Brasil.

As universidades públicas brasileiras ainda são consideradas as melhores do país pelo prestígio e pela qualidade de pesquisa. No entanto, os alunos são quase exclusivamente das classes superiores do país, e os orçamentos generosos de pesquisas e a força de trabalho sindicalizada fazem que o custo por aluno seja três vezes e meio o custo das faculdades particulares.

Bolsa
Em 2004, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu início ao programa ProUni, que oferece bolsas para que os alunos de baixa renda frequentem universidades particulares. Desde que assumiu o cargo em 2011, a presidente Dilma Rousseff ampliou o programa e aumentou em mais de quatro vezes o orçamento dos empréstimos para os alunos enquadrados no programa Fies.

Os empréstimos subsidiados têm uma taxa anual de juros de 3,4% – um grande negócio em um país onde a inflação está em mais de 6% e os bancos quase sempre cobram mais de 40% de juros nos empréstimos pessoais – e os estudantes podem aguardar até 18 meses depois da formatura para começar a pagar.

Dívida
Cerca de 5,3 milhões dos sete milhões de universitários brasileiros estavam em instituições privadas em 2013. Aproximadamente 31% deles receberam auxílio das bolsas do ProUni ou dos empréstimos do Fies ou de ambos.

Já que a grande onda de empréstimos estudantis começou apenas em 2011 e esses estudantes têm até 2016 para começar a pagar ainda não está claro se os graduados brasileiros terão os mesmos problemas que muitos norte-americanos têm com a dívida.

João Carlos Santos, analista sênior do setor educacional do banco de investimentos brasileiro, o BTG Pactual, disse que as grandes empresas trabalham com o governo para expandir os empréstimos estudantis subsidiados. “Isso lhes deu uma vantagem adicional em relação aos grupos menores, que não podiam influenciar no processo, e acelerou a consolidação do setor”, declarou.

Melhoras
Oito em cada nove faculdades da Laureate avaliadas pelo Ministério da Educação (MEC), de 2009 a 2012, melhoraram suas classificações nos testes nacionais padronizados após sua aquisição pelo grupo.

Parceria para ampliar vagas
O apoio do governo ajudou os investidores a colherem alguns retornos. Um grande ator é a Laureate Education, empresa de educação norte-americana. A Laureate fez 12 aquisições desde que entrou no Brasil em 2005. São mais de 200 mil alunos no país.

“É difícil encontrar outro país no qual o governo esteja trabalhando tanto, em parceria com o setor privado, para ampliar o acesso à educação superior”, disse José Roberto Loureiro, presidente das operações da Laureate Brasil.

Investimentos estão também no setor técnico e básico

O investimento do setor privado na educação técnica, básica e fundamental também está crescendo. A empresa britânica Pearson comprou em dezembro do ano passado a Multi, uma rede de escolas de idiomas em uma negociação de mais de US$ 880 milhões (R$ 1.940 milhões) em dinheiro e em transferência de dívida.

A Avenues, uma escola particular de Nova York cujos investidores incluem as empresas de fundos de investimento Liberty Partners e a LLR Partners, anunciou planos de abertura de campus em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Nos últimos cinco anos, fusões e aquisições expandiram ainda mais algumas das maiores redes, concentrando o poder nas mãos dos grupos comerciais gigantes. As dez maiores redes de faculdades no Brasil agora educam quase 35% dos alunos do país.

As duas maiores redes de instituições de ensino no Brasil – A Kroton Educacional e a Anhanguera Educacional – receberam do órgão antitruste (Cade) em maio a aprovação para o processo de fusão.

Ambas as empresas negociam na Bolsa de Valores de São Paulo, e a fusão criará a maior instituição de ensino comercial de capital aberto do mundo, no valor de mais de US$ 8 milhões (R$ 17 milhões).

As universidades da empresa resultante terão mais de 1 milhão de alunos. Entre eles, Claudinei Mota, estudante de matemática na Uniban, parte do Grupo Anhanguera, que conseguiu um empréstimo do governo federal para ajudar a pagar a mensalidade de R$ 400 mensais.

“Eu não conseguiria estudar sem o empréstimo”, contou. A dívida da faculdade de Mota ficará em cerca de R$ 16.200, com os juros, se ele levar nove anos para pagar o empréstimo.









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