Brasil pretende proibir celulares em escolas para preservar "essência do ambiente pedagógico"

Brasília-DF, terça-feira, 11 de fevereiro de 2025


Brasília, segunda-feira, 16 de dezembro de 2024 - 19:51      |      Atualizado em: 24 de dezembro de 2024 - 12:11

Brasil pretende proibir celulares em escolas para preservar "essência do ambiente pedagógico"

Projeto que prevê medida foi aprovado na Câmara dos Deputados e será analisado no Senado Federal. Entenda os principais prejuízos do equipamento para estudantes e dicas para adaptação às restrições

Senado Federal irá analisar PL (Projeto de Lei) 104/15, que proíbe uso de celulares e aparelhos eletrônicos em salas de aula. Texto foi aprovado na última quarta-feira (11) pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados, em caráter terminativo: sem necessidade de análise em plenário. Isto é, texto vai direto à Casa revisora. 

Trata-se de debate antigo. A presença desses equipamentos em escolas já era questionada por especialistas e educadores há tempos. Na justificativa da proposta, o autor, deputado Alceu Moreira (PMDB/RS) relembrou discussão de 2009, em Comissão da Casa, quando medida foi considerada necessária "para preservar a essência do ambiente pedagógico".

Psicopedagoga e mestra em Educação, Daniela Janssen explica que o celular pode oferecer distração significativa, especialmente com o novo hábito de uso intensificado durante o ensino remoto, adotado no isolamento preventivo à covid-19.

“Essas crianças e adolescentes voltaram para o período escolar pós-pandemia já com o comportamento adquirido. Então elas queriam, de fato, permanecer com esse comportamento também dentro do ambiente escolar”, detalha Janssen ao relatar que muitos alunos passaram a apresentar dificuldades de atenção e engajamento nas atividades pedagógicas.


Impactos na saúde

A psicopedagoga esclarece que além de dificultar a concentração há, ainda, o desafio de competir com os estímulos digitais. Na relação distração-aprendizado, a profissional enumera os principais prejuízos para os estudantes:

1. Redução da capacidade de concentração;
2. Diminuição da interação social presencial;
3. Possível queda no desempenho acadêmico; e
4. Aumento da ansiedade relacionada ao uso constante do dispositivo.

Segundo a especialista, os jovens interagem menos entre si até quando estão no mesmo ambiente físico. A conduta é de olhos colados nas telas, o que tem levado os jovens a altos níveis de serotonina — hormônio produzido pelo corpo, que dá sensação de satisfação.

Prazer que acaba substituído por outros sentimentos, como a ansiedade. “Nossas crianças, de forma geral, estão mais ansiosas e menos pacientes porque o celular é muito rápido, ele é muito estimulante”, afirma Daniela.

Velocidade que não combina com ambiente escolar, onde os estudantes são incentivados a escrever, raciocinar. “Somos formados por comportamento, então quando a gente faz uma coisa por um longo tempo de forma repetitiva aquilo se torna um comportamento, um hábito em que a gente já não percebe mais que está fazendo aquilo”, explica a psicopedagoga.


Tendência global

Tema ganhou novo impulso no Brasil devido ao movimento internacional de países que adotaram a proibição. Iniciativa também é defendida pela OMS (Organização Mundial de Saúde).

Bélgica, Espanha e Reino Unido já pacificaram a questão ao retirar equipamentos tecnológicos de sala de aula. Na França, a restrição foi implementada em 2018. Uruguai, por sua vez, disponibilizou dispositivos adequados ao uso pedagógico para compensar a moderação.


Exemplos estaduais

Rio de Janeiro e São Paulo já adotaram a proibição como regra. Em fevereiro deste ano, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD) assinou decreto com aplicação em escolas públicas municipais.

No último dia 6 de dezembro, foi a vez de o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sancionar lei que regulamenta a norma em todo o estado.


Aceitação

O projeto em discussão no Congresso Nacional analisa a possibilidade de uso dos aparelhos, exclusivamente, em atividades pedagógicas. Cerca de 86% dos brasileiros são a favor, segundo pesquisa da Nexus.

Para a psicopedagoga Daniela Janssen, o sucesso de eventual restrição passa pela abordagem equilibrada e adaptação participativa. Com flexibilidade, a atitude “mais severa” poderia ser amenizada. 

A metodologia para implantar a restrição complementa o tripé escola-aluno-família. A dica é pacificar as emoções e promover adaptação mais diplomática.

Escolas podem:

1. Envolver os alunos na criação das regras de uso;
2. Oferecer workshops sobre uso responsável de tecnologia; e
3. Reconhecer e premiar salas que cumprem as diretrizes estabelecidas.
 

Na relação entre escola e famílias, a sugestão é:

1. Realizar reuniões para explicar as políticas de uso de celular e benefícios;
2. Oferecer orientações para que os pais reforcem essas práticas em casa;
3. Manter comunicação aberta e regular sobre o tema; e
4. Demonstrar como o uso controlado de tecnologia pode melhorar o aprendizado.
 

“É importante lembrar que o celular pode ser uma ferramenta educacional valiosa quando usado de forma adequada e controlada. O objetivo deve ser ensinar os alunos a utilizá-lo de maneira responsável e produtiva, preparando-os para um mundo cada vez mais digital”, complementa Daniela Janssen.









Últimas notícias

Notícias relacionadas



REDES SOCIAIS
Facebook Instagram

Sindicato dos Auxiliares de Administração Escolar em Estabelecimentos Particulares de Ensino no Distrito Federal

SCS Quadra 1, Bloco K, Edifício Denasa, Sala 1304,
Brasília-DF, CEP 71398-900 Telefone (61) 3034-8685
recp.saepdf@gmail.com